sexta-feira, setembro 21, 2007

Miguel...




















"Viu os frutos do pomar amadurecerem e serem colhidos, viu a neve derreter-se nas montanhas. Mas nunca mais viu o príncipe".
(Andersen: A pequena sereia")
Falar sobre o Miguel é muito complicado para mim até hoje. Porque sua passagem por minha vida deixou marcas profundas. Ele foi o grande amor da minha vida! O único, na verdade!
Nos conhecemos em Curitiba (PR). Na época eu morava em Jundiaí (SP) e fui visitar um amigo que recentemente tinha se mudado para a capital paranaense. Meu amigo, o Pedro, além de me ciceronear pelos pontos turísticos também me levou para conhecer a cena gay local.

Fomos à extinta Queen e lá ví o Miguel pela primeira vez, totalmente montado em um estilo meio cyber-punk-clubber, com sua anágua e coturnão colorido nos pés. Ele se destacava em meio a multidão de gentes e corpos. Eu o achei lindo e perfeito desde o primeiro momento, nos mínimos detalhes. E passei a noite inteira a lhe observar, até que criei coragem para me aproximar (com aquelas conversas bestas de gente que caça gente em boate gay). Ele me desprezou com categoria, como todo bom curitibano, e foi muito econômico com as palavras. Arrasou com minhas esperanças.

Voltei para São Paulo e tempos depois fui morar em Curitiba, após ter transferência aceita para cursar Ciências Sociais na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Não foi nada difícil rever meu piá maluco perdido pelas baladinhas, visto que ele - assim como eu! - era, na época, criatura da noite. Tínhamos amigos em comum, gostos semelhantes, frequentávamos os mesmos lugares. E isso só tenderia mesmo a dar em algo. Era uma questão de tempo...

Marcamos um encontro na Rua 24 Horas, um dos cartões postais da cidade. Eu morava bem próximo da 24 Horas, alí na Vicente Machado, ao lado do também extinto e ótimo barzinho Dromedário. Fiz um look mais clean (na medida do possível), tentei não carregar muito no make-up e fui, aflito! Foi agradável porém estranho. A frieza e a antipatia dos curitibanos sempre me perturbou. E o Mig é um exemplar perfeito de curitibano, com seu sotaque e atitudes inconfundíveis!

Aquele encontro inicial foi o estopim de uma relação intensa que durou 3 anos e 6 meses. Para mim tudo era novidade, eu jamais tinha tido um relacionamento até então. E foi meu primeiro e único também, até hoje.

Nos fundimos um ao outro com muita facilidade. Em pouquíssimo tempo já morávamos juntos e o sentimento só se fortificava cada vez mais. Trocávamos experiências de vida e conhecimentos. Aprendemos muito um com o outro. E formávamos um casal bem harmônico e entrosado. Éramos bonitos e fortes juntos.

Nosso maior problema sempre foi o ciúme doentio de ambos. Com o passar do tempo as brigas só aumentavam e tornavam nosso relacionamento muito difícil. Creio que o fato de sermos tão jovens e de certa maneira infantis tenha sido fator crucial para que todas aquelas sagas e histerias paranóicas fossem uma constante em nosso dia-a-dia. Foram tempos de turbulências, de ameaças não concretizadas de rompimento, de discussões acaloradas... mas também de companheirismo, de afeto mútuo, de momentos inesquecíveis, de festas mil...

Desde nossa separação definitiva, em Salvador (BA), há quase 7 anos atrás, minha vida desmoronou. Foi difícil perceber-me só, visto que nos imaginávamos envelhecendo juntos, um cuidando do outro. Precisei reaprender a viver e a reconstruir minha própria identidade a partir dos cacos que restaram. Sofri muito! E é uma dor que ecoa até hoje, silenciosa, porém onipresente. Me endureci, me tornei um ser amargo, frio e pouco sensível. Lastimavelmente nosso relacionamento foi encerrado de forma muito pouco civilizada e nos ferimos muito. O tempo me fez entender o desfecho e todo o processo que o desencadeou. O tempo curou as feridas e mágoas do coração. Restaram apenas as cicatrizes. E o vazio! Cicatrizes que até hoje me inibem de correr riscos, de me envolver novamente, pelo simples medo de sofrer. Prefiro abster-me sempre, por uma questão de amor-próprio e instinto de sobrevivência.

É óbvio que conheci e estive com outras pessoas. Somos humanos e temos nossas "necessidades carnais". Mas amar ou querer estar ao lado de alguém, como foi com o Mig, não mais!

Achei de bom tom guardar do relacionamento somente os bons momentos, a luz, o riso, o bright side... porque no fundo é isso o que realmente importa e o que me traz aquela fagulha de felicidade vezenquando.

Nos falamos uma única vez por telefone após o fim, há pouco tempo atrás. Mas nesses 7 anos de separação física não houve um único dia em que eu não me lembrasse do Mig, cara de nuvem.

Obrigado por tudo e perdão pelas falhas mil que cometi contigo.

Se algum dia você ler essas palavras (algo me diz que isso acontecerá!), saiba que você mora no meu coração e que te aprecio muitíssimo, sempre!

Foi maravilhoso te ter ao meu lado, comigo. E onde quer que eu esteja/onde quer que você esteja, te envio meu amor, meu carinho, meu respeito. E te desejo o melhor, sempre.
Seja feliz!

sexta-feira, setembro 14, 2007

Da Patria Guarani...




"La patria es el lugar donde uno es feliz"
Augusto Roa Bastos

Continuo "exilado". Exílio forçado, de certo modo. E voluntário de certo modo também. Mas é um exílio, sem sombra de dúvidas. A sensação agora é boa, foi mesmo a alternativa mais inteligente.

O frio intenso deu lugar ao calor extremo, o que me faz pensar que esse verão será de temperaturas altíssimas aqui na fronteira, terra de clima complicado - frio demais no inverno, calor demais no verão, sem mencionar a baixíssima umidade relativa do ar nessa época do ano, quase semelhante aos níveis de regiões desérticas, o que judia muito de nossas vias respiratórias. Desde que aqui cheguei há um mês tenho sido massacrado pelo clima infame... e a saúde já foi para o brejo...

Porém, apesar dos pesares, tem sido uma experiência agradável. Meus parentes que moram aqui são amáveis e divertidos, além dos amigos e conhecidos que sempre aparecem para um bate-papo regado a tereré, o "mate gelado" paraguayo. Ou em ocasiões mais boêmias, farras despretenciosas com alguns litros de Brahma para animar... (sim, babies... aqui no Paraguay a garrafa de cerveja é de litro!!! Adoooooooooooro!!!).

Novamente reafirmo que quase não tenho acessado a internet, e esse é o principal motivo pelo qual não tenho respondido e-mails e recados do orkut e hi5 tão frequentemente como antes. Portanto, peço-lhes perdão pela demora em responder-lhes e sei que todos entenderão.

Estou introspectivo, na verdade. E não tenho saído tanto nem feito as extravagâncias que costumava fazer durante minhas outras passagens por essas bandas. Estou caseiro. Estou centrado. Estou racional.

Claro que sinto saudade da vida que tinha. Mas às vezes o distanciamento (até mesmo físico) é um mal necessário para amenizar situações delicadas. C´est la vie!

Creio que o mais sábio nessa vida seja mesmo saber desfrutar cada momento, e é o que tento fazer sempre, onde quer que esteja.

PARADA DO ORGULHO GAY - RECIFE 2007


Povo de Tebas...

Se aproxima a Parada do Orgulho Gay 2007 de Recife (PE).

Será no dia 16 de setembro, esse próximo domingo.

Concentração em frente ao antigo Savaroni, na orla de Boa Viagem, com atividades de jogos (promovido pelo Leões do Norte) a partir das 9h e saida prevista às 15h e com atrações variadas, dentre as quais a cantora Zélia Duncan.

Importante para a visibilidade dos gays na sociedade e pela eterna luta pelos direitos GLBT (que são direitos humanos!).

Perante a lei somos todos iguais em direitos e deveres, mas na prática o mesmo não ocorre, infelizmente.

A Parada, além de diversão garantida, é antes de tudo um ato de cidadania.

Planejava ir, mas como não estou em Recife só poderei acompanhar a repercusão pela internet mesmo. Bom fervo aos que forem!

Como me disse um conhecido:
"...a la lucha, a la lucha
no somos machos pero somos muchas..."

Adooooooooooro!


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Notícia do jornal O Globo virtual:


A 6ª Parada da Diversidade de Pernambuco aconteceu na avenida Boa Viagem, a principal do bairro. A concentração foi marcada por apresentações de grupos populares e show de Zélia Duncan. Logo após o show, os trios elétricos divertiram os participantes. Cerca de 50 mil pessoas acompanharam a parada, que foi até a Pracinha de Boa Viagem.
(Foto : ALEXANDRE SEVERO/JC IMAGEM/AE)



Imagens da Parada retirada do youtube: http://www.youtube.com/watch?v=AdGoLkxPxDc



quarta-feira, setembro 05, 2007

Douglas...





Certo dia lí uma frase que se encaixa perfeitamente aqui e que me serve como introdução para falar sobre meu amigo Douglas. Não me lembro o autor nem onde a lí. Também não sei ao certo se ela é exatamente assim como a transcrevo, mas o que vale é a essência:

"AMIGOS SÃO PARENTES QUE SE ESCOLHE"

Eu e o Douglas nos conhecemos em 1995, na época em que fui morar em Jacarezinho, norte do Paraná. Ele era DJ e figura bastante conhecida por lá. Eu era clubber, recém chegado de São Paulo, e igualmente bastante conhecido por causa do meu visual um tanto incomum para os padrões mais tradicionais. Uma mistura que só poderia dar certo: o DJ e o clubber!
O laço de nossa amizade só cresceu com o tempo, mesmo após meu retorno à São Paulo.

Porém nossos destinos se cruzariam novamente em Curitiba, em 1997. Fui estudar na UFPR e o Doug foi morar com sua tia na linda capital paranaense.

Em Curitiba vivemos momentos incríveis. Foi um mar de descobertas para ele, piá simples vindo do interior. E muita diversão para ambos. Desde então viramos uma dupla dinâmica e aprontamos muito não só em Curitiba, mas também pelo Nordeste (Aracajú e Salvador) e em São Paulo capital. São muitas histórias malucas que sempre nos rendem boas gargalhadas cada vez que nos reencontramos.

Juntos nós rimos e choramos, brigamos e nos reconciliamos. Vivemos momentos de fartura e de miséria, de loucura e lucidez, de festa e de dores mil causadas por situações e pessoas malditas que cruzaram nossos caminhos. O céu e o inferno! E justamente durante as tribulações nossa amizade se solidificou. A vida me deu um irmão! De alma, do coração!

É quase impossível não gostar ou não se relacionar bem com o Douglas. Ele é uma dessas poucas pessoas que enobrecem a raça humana, algo raro hoje em dia. Ele é divertido, solícito, batalhador, diplomático, educado, justo, meigo, carismático. De qualidades mil. Sempre têm palavras de conforto e ânimo, está sempre pronto para o que der e vier.

Meus pais o adotaram afetivamente. Ele é membro da família, querido por todos. E está sempre incluido em todos os nossos planos.

O curso dinâmico da vida se encarregou de nos separar novamente. Ele continua radicado em Sampa enquanto eu perambulo por aí, em meu eterno nomadismo. Mas nossa telepatia continua ativada e as distâncias geográficas não conseguem nos desconectar jamais, para minha imensa alegria.

Tudo bem que ele NUNCA tenha respondido a nenhuma das infinitas cartas que lhe escrevi. Mas compensou ao gastar grandes quantias de dinheiro em ligações (a Embratel agradece pelos muitos DDDs e DDIs, viu?). Essas são características tipicamente nossas mesmo: me expresso melhor ao escrever, já ele ao falar! Somos assim, diferentes e complementares. E por isso mesmo nos mantemos em afinada sintonia.

Tenho consciência plena de todas as vezes em que lhe falhei como amigo. E nem por isso perdi sua amizade - dada sua tamanha grandeza espiritual e capacidade de perdoar meus lamentáveis defeitos! Sei que não é nada fácil conviver com uma pessoa rabujenta, geniosa, impulsiva, de humor inconstante e manias irritantes como eu. Acho que só mesmo o Doug para me tolerar!

Aproveito esse "depoimento" para pedir-lhe perdão por todas as minhas falhas, erros, omissões e distrações com relação a nossa amizade. E também para reafirmar o que todos aqueles que me conhecem já sabem: Douglas, você é meu melhor amigo, confidente, companheiro e irmão! Você mora em meu coração. Você me conhece melhor do que ninguém. E me aceita e me respeita exatamente como sou. Por isso te amo e valorizo muito nossa amizade.

Sei que esse carinho é mútuo, e só por sabê-lo já me basta, já me alegra muito o coração.

Onde quer que eu esteja, torço por ti e te envio as melhores vibrações sempre.

Sucesso e paz, irmão!