sexta-feira, agosto 27, 2010

Guiana




Em continuidade aos relatos de minha viagem pelas "Guianas", inauguro agora o topico dedicado a Guiana (no original em ingles Guyana).
Esta ex-colonia britanica encravada no norte da America do Sul eh provavelmente o pais mais singular de todos. Eh impossivel passar pela Guiana e nao guardar uma forte impressao, boa ou ruim, interessante ou esquisita, sobre o pais.
Esta tambem foi minha segunda passagem por estas bandas. A primeira foi ha muito tempo atras, ha mais de uma decada, e foi realmente muito breve pois ganhei apenas 3 dias de permanencia e nao tive oportunidade de ver muita coisa. Desta segunda vez foram mais generosos e me deram uma semana de permanencia, tempo suficiente para explorar a capital Georgetown e seguir viagem.
Entrei na Guiana desta vez atraves da fronteira fluvial com o Suriname. Cruzei de N. Nickerie (Suriname) para Corriverton (Guyana) no concorrido ferry-boat que so parte uma vez ao dia. Portanto aos que forem fazer este percurso aconselho prestarem atencao ao horario para nao correrem o risco de ficar sem atravessar. Para chegar ao porto de N. Nickerie tambem eh necessario combinar previamente com algum motorista e eles apanham os passageiros que farao a travessia nos hoteis logo cedo. Detalhe que aconteceu comigo: as vezes eles simplesmente esquecem do compromisso combinado e nao dao as caras, o que impossibilita a viagem no dia planejado. E alguns disponibilizam seus carros particulares ou taxis para deixarem o passageiro no porto em tempo, mas querem cobrar uma pequena fortuna pelo servico. Prefira usar as vans ou taxis coletivos que cobram precos justos.
A aglomeracao de gente e carros na hora do embarque e desembarque do ferry-boat em ambos lados da fronteira chega a cansar. Compra-se a passagem na hora, mostra-se e carimba-se saida do Suriname no posto de imigracao presente ali no porto mesmo. Ha um duty free shop aos interessados em comprinhas de ultima hora. Prepare-se para muita desorganizacao, que torna-se pior no lado guianense da fronteira.
A travessia no ferry-boat eh tranquila e segura, leva em torno de 20 minutos e tem-se bela vista
do rio no deck superior.
Ao desembarcar na Guiana eh necessario ja estar com o formulario de imigracao que recebe-se no ferry-boat devidamente preenchido. Supostamente no controle de imigracao ha uma fila para cidadaos do CARICOM (Comunidade dos Paises Caribenhos, que inclui Guiana e Suriname) e outra fila para estrangeiros de outros paises e diplomatas, mas a questao eh que ninguem respeita estas separacoes e ha muitas pessoas que, bancando as espertinhas, furam a fila. Mais um momento chato, talvez onde necessita-se ter bastante paciencia. Prepare-se para ser um dos ultimos a conseguir sair do controle de imigracao, pois eles acham-se no direito de passar na frente de pessoas que portem passaportes de outros paises. Os guardas da imigracao guianense fazem algumas perguntas, checam passaporte e carimbam a entrada no pais.
Vale lembrar mais uma vez que brasileiros nao necessitam de visto antecipado para nenhum destes 2 paises (Guiana e Suriname). Tal visto eh estampado na hora do desembarque (entrada no pais) em ambos territorios. Ja para nos que viajamos com passaportes da Uniao Europeia sempre ha um maior rigor com relacao a tempo de permanencia, hospedagem e demais detalhes de viagem. Talvez haja este maior "rigor" com passaportes europeus como vinganca contra os sufocos que, imagino, eles devam passar quando desembarcam nos aeroportos europeus.
Na saida do posto de imigracao ha varios cambistas para troca de moeda, com cotacao ruim. Troque apenas o necessario para chegar em Georgetown, pois na capital ha melhores ofertas.
Ha tambem varios motoristas das vans e seus ajudantes que abordam os recem chegados para embarcarem em suas vans. Nao se assuste, pergunte precos para escolher as melhores tarifas e principalmente informe-se se a van vai partir em seguida, para nao mofar a espera da partida.
A viagem de Corriverton a Georgetown eh tranquila, em estrada relativamente boa. Ainda em Corriverton eh comum os motoristas pararem em algum restaurante para que os passageiros comprem comida e algo para beber durante a viagem. Aproveite senao so mesmo em Georgetown.
Ao chegar na periferia de Georgetown, cidade de porte medio, com cerca de 200 mil habitantes, a sensacao de estranhamento aumenta: ao inves de encontrarmos uma cidade britanica mais parece que estamos em algum pais africano ou no interior da India. Basicamente os dois maiores grupos etnicos do pais sao negros e hindus. Os colonizadores europeus desapareceram e sao poucos os turistas brancos que se aventuram por estas bandas.
Georgetown tem ma fama! Eh de fato uma cidade suja e perigosa pela alta criminalidade, e as recomendacoes aos turistas eh de cautela maxima. Evite saidas noturnas. E mesmo durante o dia prefira estar em lugares movimentados, onde a probabilidade de algo ruim acontecer eh um pouco menor. Evite portar joias, grandes quantias de dinheiro, cameras fotograficas, filmadoras ou qualquer outro aparelho eletronico. Se for utiliza-los, faca-o rapidamente e com atencao redobrada. Georgetown nao eh uma cidade para viajantes principiantes.
A causa da violencia eh a extrema pobreza da populacao. Eh comum ver pessoas que dormem nas ruas ou que perambulam esfarrapadas ou semi-nuas por toda a cidade. Brigas de rua sao parte do cotidiano. Se em qualquer momento perceber que o clima vai esquentar proximo de onde voce esta, tente achar um lugar seguro.
Ha tambem, entre os guianenses, grandes problemas raciais. E este pode vir a ser um problema que afete tambem aos turistas que visitam o pais. Sempre eh bom andar com o numero de contato do consulado ou embaixada do seu pais em maos, caso necessite qualquer auxilio imediato.
Nao hesite em usar taxis para chegar em lugares distantes ou desconhecidos, pois eh melhor gastar um pouco e chegar seguro. E sempre verifique com os recepcionistas do hotel se a area que voce pretende visitar eh tranquila, para nao ter surpresas desagradaveis. Se o hotel tiver um cofre e inspirar seguranca, deixe o passaporte no cofre e leve apenas uma copia, pois relatos de roubos de passaportes para revenda no mercado negro sao comuns.
Outro detalhe que nao posso deixar de mencionar eh a lingua. Oficialmente, por ter sido colonia britanica, o idioma falado na Guyana eh o ingles. Mas nao espere o ingles britanico, puro e perfeitinho! Mesmo os que dominam o idioma de Shakespeare sofrem para entender o sotaque, expressoes e palavras usadas na Guyana.
Ha na Guyana uma grande colonia brasileira. Quase todos trabalham nos garimpos. Em Georgetown ha uns hoteis frequentados por esse publico (garimpeiros e as mocas de "vida facil" que buscam o Eldorado). Passei uma noite em um destes hoteis, o "melhor" deles, chamado Rockies, e nao recomendo nem ao meu pior inimigo: apesar de ser o melhor dentre os hoteis brasileiros e eu ter ficado em um dos quartos mais "confortaveis", passei a noite matando baratas, fugindo de um ratinho que volta e meia aparecia para me saudar e me cocando por causa dos mosquitos. Isso para nao mencionar que embaixo, na recepcao do hotel, fica um bar (ou seria cabare?) que toca musica da pior qualidade em volume ensurdecedor a noite, para embalar a funcao das "meninas". Simplesmente evite, pois se o "melhorzinho" eh assim, imagine os outros!
Infinitamente melhor e pelo mesmo preco (US$ 25/diaria) ha o Demico Hotel, perto do Stabroek Market: quartos confortaveis com ar-condicionado e banheiros decentes, atendimento cordial e demais comodidades. Apesar do barulho e da confusao generalizada que ha ao redor do mercado, por ser ponto de embarque e desembarque de passageiros das vans que fazem o transporte na cidade, eh uma boa opcao de estadia. No andar inferior ha uma lanchonete (meio Mc Donald's local) e um restaurante tambem do hotel, mas abertos ao publico em geral, com boas ofertas de sanduiches, sorvetes e pratos da culinaria creole e indiana por precos convidativos. E o hotel tem tambem um bar para quem quiser saborear a cerveja local, chamada Banks, o delicioso licor D'Aguiar's ou outros drinks.

As atracoes da cidade, sempre recomendando a cautela ao visita-las, seriam as seguintes:

- Stabroek Market: um dos cartoes postais da cidade. A estrutura externa, com o relogio no alto da torre, impressiona. Mas por dentro nao ha nada de especial e pode decepcionar alguns visitantes.
- City Hall: predio de madeira em estilo gotico que abriga a prefeitura de Georgetown e que parece um castelinho.
- Supreme Court: ao lado do City Hall, outro belo predio de madeira que chama a atencao. Repare na estatua da Rainha Victoria da Inglaterra em frente ao predio, que foi inaugurado no Jubileu da Rainha.
- St. George's Cathedral: imponente catedral de madeira, com 43 metros de altura, e que eh uma das maiores igrejas de madeira do mundo.
- Public Buildings (Parliament): predio do Parlamento que so pode ser visto por fora.
- Seawall: por estar localizada abaixo do nivel do mar, foi construido em Georgetown uma especie de "muro" para proteger a cidade das aguas do Oceano Atlantico. Tal muro, o Seawall, tem o formato de calcadao e eh um lugar onde pode-se fazer caminhadas.

Ha outros predios publicos bonitos, assim como o casario de madeira que, apesar de mal conservado, chama a atencao de qualquer viajante.

Aos que partem da Guyana em voos internacionais deve-se pagar uma taxa aeroportuaria de cerca de US$ 20, que nao esta incluso no valor da passagem ou das taxas normais que as empresas aereas cobram.

E aos quem se atreverem a conhecer a Guyana, desejo-lhes boa sorte em sua estadia!

Um comentário:

João disse...

Moro na Guiana e gostei de seu relato; foi verdadeiro e direto. Já trouxe muita gente curiosa pra cá e a reação sempre é de choque. Anyways, good work! Atta girl!