Presenciei um assassinato em Tracunhaém, interior de Pernambuco, nesse sábado (24/05). Foi uma experiência horripilante e perturbadora.
Viajei para Nazaré da Mata, a terra do maracatu rural, cidade simpática na zona da mata norte, que dista somente 65 km da capital pernambucana.
Fui à Tracunhaém, um minúsculo município vizinho de Nazaré da Mata, para visitar uma conhecida. Ela levou-me ao recém-inaugurado bar de sua filha, encravado na pracinha central da cidade, bem movimentado e bastante agradável. Como é típico nas cidades interioranas por onde passo, logo virei "celebridade". Como as pessoas percebem que sou de fora, rapidamente aproximam-se para conversar. Gosto dessa amabilidade e simpatia que são inerentes aos nordestinos, de forma geral.
Dentre muitas pessoas que se acercaram, um rapaz pediu educadamente para sentar-se comigo em minha mesa pois já não havia outros lugares livres e prontamente consenti. Ele sentou-se ao meu lado esquerdo e começamos a conversar, o que foi bastante agradável visto que estava só até então.
Algum tempo depois um suposto primo dele sentou-se conosco na mesa também, ao meu lado direito. Esse rapaz estava bastante calado, introspectivo, desantento aos rumos de nossa conversação - como se já pressentisse que algo fatal estava por acontecer.
Em uma fração de segundos houve o macabro desfecho: um homem entrou por uma das portas do bar já com um revólver em punho e disparou um tiro à queima-roupa no rapaz calado que estava sentado exatamente do meu lado direito.
O que se seguiu foi um pandemônio caótico: correria e gritos desesperados, e muitos outros tiros em sequência, todos especificamente contra o rapaz.
Para mim tudo pareceu tão surreal e amedrontador, talvez por acontecer alí embaixo das minhas fuças com alguém que estava posicionado exatamente ao meu lado, na mesma mesa de bar, a poucos metros de mim! É óbvio que alguns dos projéteis poderiam ter me acertado, o que só reforça 2 opiniões minhas: o atirador era bom de mira e estava determinado a executar somente seu desafeto sem eventualmente atingir outras pessoas.
O instinto de sobrevivência fez-me correr do cenário. Quando percebi já estava a muitos metros do bar, do outro lado da praça, totalmente apavorado e sem fôlego, pernas bambas e coração hiper acelerado. E felizmente ileso!
Após conversa com alguns moradores locais soube que o rapaz alvejado já era figura malquista por seu envolvimento com drogas e por praticar pequenos delitos para manter o vício. Detalhes que eu, por não ser da cidade, jamais saberia. E não haveria nenhuma lógica em pedir atestado de antecedentes criminais ou documentação para cada pessoa que se aproxima de mim durante minhas muitas viagens. Estava no lugar errado, na hora errada, ao lado da pessoa errada - isso é fato!
Ironicamente muitos dos comentários que mais ouvi antes do incidente eram relatos sobre a calma e tranquilidade de Tracunhaém, assim como a amabilidade dos moradores. Só sei que o susto bastou para pôr um ponto final na noite e no passeio. Tomei um táxi, voltei ao hotel em Nazaré da Mata e assim que o dia amanheceu retornei ao Recife.
Apesar de não conhecer detalhadamente os meandros das histórias de vida que cada pessoa envolvida no episódio traz consigo, apavora-me absurdamente esse ato de fazer justiça com as próprias mãos. Para isso existem leis e órgãos competentes. Creio que o mundo funcionaria de forma mais harmônica caso houvesse esse respeito ao Estado e suas respectivas atribuições, senão voltaremos ao mundo de barbáries, em um claro retrocesso de civilidade.
Fica pois, após o susto e as sequelas psico-emocionais, o recado.