sábado, dezembro 15, 2007

Vanguardismo???

Às pessoas que convivem comigo não escondo minhas opiniões com relação a temas ainda bastante polêmicos em nossa sociedade. Sou sim favorável, dentre outras coisas, a legalização do aborto, a união civil entre pessoas do mesmo sexo, a eutanásia e a descriminalização das drogas.

E antes de ser bombardeado por críticas, explico-lhes as razões pelas quais tomo determinadas posturas e as torno públicas aqui no blog.

Porém antes de analisá-las sob meu ponto de vista faz-se necessário ressaltar que não devemos misturar posições políticas com idéias religiosas de nenhuma espécie. O Estado, em tese ao menos, é laico. Na prática nossos políticos tendem a nos impor leis baseadas em crenças religiosas particulares, o que não me parece justo pois nem todos professamos da mesma fé.
Sempre deveria haver um consenso baseado em dados científicos e nas aplicações práticas das leis vigentes. Isso seria o correto. E nessa questão ainda estamos a engatinhar, visto que há um lobby cristão (seja católico ou evangélico) muito forte a pressionar políticos e opinião pública nesse país cada vez que ameaça-se tratar de "temas tabus". Nesse quesito a Holanda é de longe o único país mundial com legislação exemplar, digno de louvor pela posição laica do Estado na criação e aplicação de leis.

Não adianta tapar o sol com a peneira: apesar da lei (moral ou legal) proibir, milhares de mulheres abortam a cada ano em clínicas clandestinas, sem a mínima infra-estrutura de higiene. Muitas morrem em decorrência desses procedimentos mal-feitos por pessoas desqualificadas profissionamente. Talvez um eficaz planejamento familiar evitasse ou minimizasse essa decisão mais radical, no entanto muitas famílias - principalmente as de baixa renda - não tem acesso as informações e métodos contraceptivos corretos. Além disso, penso que cada pessoa é livre para escolher o que é melhor para sí e o correto momento de ter filhos. Até as religiões preconizam o chamado "livre-arbítrio". Portanto cabe a mulher decidir se e quando quer procriar.

No caso da união civil entre pessoas do mesmo sexo, nada é mais justo! O homossexualismo existe, assim como casais homossexuais estáveis existem, independentemente da sociedade julgar correto ou não. Essa é apenas uma das formas possíveis de amor. E esses casais precisam ser amparados pela lei em igualdade com casais heterossexuais, já que a lei prevê que todos os cidadãos são iguais em direitos e deveres. Portanto, por uma questão de justiça, não deve haver párias! A ciência, há tempos, comprovou que o homossexualismo não é doença como muitos ainda pensam. Nem uma perversão qualquer. É apenas uma variante sexual, que deve ser respeitada por todos. Com a legalização da união civil torna-se mais fácil resolver muitos problemas básicos (como aquisição de bens e imóveis, abertura de conta conjunta, herança em caso de morte de um dos cônjuges, direito a plano de saúde, etc...) pelos quais casais heterossexuais não passam. Descomplica muito o dia-a-dia. Tenho acompanhado pela imprensa nos últimos anos vários avanços em leis municipais e estaduais nesse sentido, o que torna possível uma legalização federal do assunto mais adiante.

Quanto a eutanásia, sou favorável sob determinados aspectos, visto que muitos pacientes que sofrem de doenças degenerativas crônicas assim como aqueles que vegetam por anos em leitos, ligados a aparelhos que mantém vivos somente alguns sinais vitais deles teriam a abreviação de seus sofrimentos físicos.
O desgaste emocional seria infinitamente menor para pacientes e familiares também. É óbvio que um laudo comprobatório emitido por uma junta médica idônea seria pré-requisito para o processo final. Mas creio que, apesar da frieza com que analiso alguns casos, determinados "fios de vida" são degradantes e tristes. Daí sai minha opinião favorável sobre a legalização da eutanásia em casos extremos.

Já com relação a descriminalização das drogas, tenho ressalvas, por tratar-se de questão de maior complexidade e ser infinitamente mais delicada. Mas cabe dizer, antes de mais nada, que não legislo em causa própria: não uso drogas nem trafico! E geralmente essa é a primeira acusação para cima de todos aqueles que ousam propôr esse tema.
Creio ser necessário achar um caminho do meio para se trilhar. Da forma como está não dá. É ineficaz e inoperante. Talvez acabar com a figura do traficante e com a violência social decorrente do narcotráfico já seria um alívio para todos os setores da sociedade. E o caminho para isso seria uma política inteligente de redução de danos para viciados aliado a uma ressocialização de detentos envolvidos com tráfico e consumo. Claro que também seria necessária uma reorganização e reeducação das polícias, um amplo trabalho social nas comunidades dominadas pelo tráfico e uma efetiva presença do Estado junto as camadas mais vulneráveis da população. Sei que isso é um trabalho de longo prazo e dispendioso para o Estado. Mas parece-me o pontapé inicial para grandes , significativas e duradouras mudanças.

Opino como um simples cidadão, que gostaria de viver em um mundo melhor e mais justo.

É isso! Divagações, sim! Vanguardismo, talvez! Utopia, sempre!




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