Pela perda de alguém muito especial...

Como a maioria de vocês devem ter notado, e aos que presenciaram pessoalmente meu sofrimento, minha ausência de postagens no blog e meu desestímulo por muitas das coisas que me pareciam interessantes tem um motivo: o assassinato de um grande amigo.

Jefferson Vieira Santos era seu nome de batismo, ou Jepp como preferia ser chamado, ou ainda Chatinho como eu gostava de chamá-lo, embora na verdade eu fosse infinitamente mais chato do que ele na maioria das vezes!

Foi covardemente assassinado com 2 tiros a queima-roupa na zona norte da cidade do Recife, local onde morava, no dia 09/02/2010 (uma terça-feira, bem no início das comemorações carnavalescas).

A notícia de sua morte me pegou de surpresa (uma má surpresa, logicamente!), e me foi dada no dia 10/02, logo cedo, através de um amigo que tínhamos em comum, pelo MSN. Como imaginei tratar-se de uma brincadeira de mau gosto, liguei para ver se conseguia falar com ele. Sua tia atendeu e me confirmou a fatalidade.

Fiquei em estado de choque, por 2 motivos: por nunca ter perdido uma pessoa tao próxima, que estava comigo (ou que ao menos se comunicava comigo) praticamente todos os dias e pela bestialidade de sua morte. A violência urbana me apavora. Mata-se por futilidades, como se a vida humana nao tivesse nenhum valor, nenhuma importância. Me choca perceber o mundo desta forma!

A graca do Carnaval acabou para mim, e o Recife passou a ser uma cidade que me sufocava a cada minuto, pois todos os lugares por onde estivemos, que frequentamos juntos e por onde vivemos tantos momentos intensos de cumplicidade, felicidade e prazer faziam com que eu me lembrasse dele e me deprimisse amargamente mais e mais. Foi por causa desta dor que sentia, e que carregarei para sempre dentro de mim, que decidi sair do Recife e voltei para a Europa. Sei que minha atitude pode parecer covarde para muitos, e na verdade as fugas sao mais fáceis do que enfrentar a realidade mesmo, mas eu nao tinha forças para continuar no Recife.

Dia 05 de abril de 2010 ele faria 19 anos, partiu tão jovem, aos 18! É atroz!

Hoje, com mais serenidade, mas eternamente ferido pela perda, faço preces e sei que ele as recebe lá onde está. A saudade será eterna. E tento nao sofrer nem chorar mais, apesar de lamentar e questionar sua morte prematura. Para conseguir ter um pouco de mais estabilidade emocional guardo em minhas memórias apenas as boas lembrancas dos momentos que vivemos juntos, e daí tiro forças para seguir adiante. Desejo aos seus familiares e amigos muita fé, e peço que facam o mesmo que eu, que guardem e lembrem apenas da energia positiva que ele nos transmitia, pois ele viverá eternamente em nossos corações!

Jefferson Vieira Santos

05/04/1991

09/02/2010

PS: Chatinho, você foi uma das melhores e mais interessantes pessoas que conheci em minha vida. Você tinha uma das qualidades que mais admiro em um ser humano: atitude! Fosse para o que fosse, você estava pronto e fazia acontecer!

Embora muitos de nossos gostos nao fossem parecidos, você fazia com que cada encontro fosse especial e único, se divertia e me divertia. "Tirava onda", como você costumava dizer.

Eu confiava plenamente em ti, e você nunca me decepcionou. Me deu provas sinceras de amizade, carinho e respeito como poucas pessoas já fizeram até hoje. Nunca pilantrou comigo, embora tenha tido todas as chances de fazer o que bem entendesse de mal contra mim.

As pessoas costumam dizer que quando alguém morre, vira santo! Nao creio nisso... Também enxergava tuas falhas, mas todos somos seres humanos, e cometemos erros durante nossas caminhadas.

Eu, particularmente, intuia algo. Inclusive por intuir que alguma coisa estava errada em tua vida te fiz 2 propostas para que você saísse de onde morava, e você nao aceitou.

Disse-me que sentiria falta dos amigos, da família. Quando eu soube o motivo de tua morte, não vou negar que me chateei contigo por não ter aberto o jogo para mim. Eu jamais me negaria a te ajudar, da forma que fosse necessária. Mas exigiria mudanças, e como você me conhecia tão bem já sabia disso, daí resolveu encarar a situação sozinho, e pagou com a vida por tua teimosia. Mas até nisso te entendo, embora nao concorde com tua postura.

Quero te dizer - e sei que você sabe e sente aí onde está agora - que te amo e sinto uma falta tremenda de ti: do teu riso solto e fácil, das tuas brincadeiras, de nossas conversas regadas a muita cerveja, de tuas pequenas crises de ciúme que me faziam rir, do teu jeito "galeroso" de ser, de tua implicância com algumas pessoas que eventualmente cruzavam nosso caminho, de tua coragem em enfrentar quem quisesse "tirar onda" conosco, do meu "sentinela", que me cuidava quando eu ia ao banheiro para que ninguém mexesse comigo ou tentasse me roubar, da intimidade que era perfeita, enfim... Nos mínimos detalhes, você era o cara para mim!

Seguir sem ti é uma dura batalha diária. Mas agora terá que ser assim. Que nossa sintonia perdure para sempre, apesar de estarmos em planos diferentes agora. Que Deus te abençoe e cuide de ti aí! Fica com Deus, te levo dentro do meu coração, para sempre!