quarta-feira, julho 25, 2007

ATAQUES NEO-NAZISTAS... já sofri mas sobrevivi!




Bom, vocês que são meus amigos há mais tempo sabem que já sobrevivi a muitos ataques neo-nazistas.
Passei muito sufoco com esses seres doentios que creem ser superiores e blábláblá...
Achei que seria interessante relembrar esses péssimos momentos da minha vida (depois que passa a gente até dá risada, embora seja um assunto extremamente sério), até porque ultimamente tenho visto a imprensa noticiar novos casos de ataques em cidades como São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.
E - pasmem!!! - soube da existência de grupos neo-nazistas até aqui em Recife, o que é, no mínimo, surreal, já que aqui é Nordeste (no Sul e Sudeste um dos grupos mais visados por eles são justamente os nordestinos!!!) e grande parte da população é negra ou miscigenada.

Bom, sofri ameaças neo-nazistas em Curitiba, em Jundiaí e em São Paulo.

A primeira foi em Jundiaí, ainda na adolescência... era madrugada, eu caminhava com um amigo, o Rogério (pintosa, pintosa, pintosa!!!) no centro. E quando viramos a esquina demos de cara com três skin heads.
Eu, com uma camiseta do The Cure, pra ajudar, cabelón desfiado, maquiagem escorrida já no fim de noite... drama total! Os caras nos pegaram, o mais fortão grudou em mim, me passou uma rasteira, caí no chão e ele veio dando coturnada... foi drama total! Rasgou minha camiseta do Cure e cuspiu na minha cara...Lembro que ele me perguntou: - " Vc é gótico, veado, que porra afinal vc é?". Respondi: -"Nenhuma das alternativas!" Daí ele disse : -"Então vai apanhar porque é mentiroso, f.d.p.!!!".
O Rogério apanhou um pouco, mas conseguiu fugir e chamou a polícia. Só que enquanto era agredido um carro viu a cena, parou e me ajudou! Os caras fugiram correndo...Quando a viatura chegou já era tarde!

Em Curitiba sobrevivi porque Deus quis!Foram dois ataques e um susto, felizmente não fui pego em nenhum deles, porque tenho certeza de que se tivesse sido pego eles teriam sido fatais!!!
Curitiba foi uma das fases mais intensas (em todos os sentidos) de minha vida. Abusava na atitude gay e no visual absurdo em plena luz do dia. O Miguel, antes de me conhecer, era punk. E mantivemos laços de amizades com todos aqueles punks squatters que, na época, infestavam o centro de Curitiba. Era bom, política de boa vizinhança, sabe? Os anarco-punks curitibanos sempre participavam das manifestações gays e também das reuniões no Grupo Dignidade, de articulação gay. Eles sempre nos alertavam sobre os nazis...
Ter atitude gay nos deixava muito visados, de certa maneira. Eu e o Mig não tinhamos medo de nada e de ninguém mesmo. Nos beijávamos em público, andávamos de mãos dadas no calçadão (Rua das Flores), mesmo durante o dia. E ai daquele que nos discriminasse... fazíamos um maremoto com qualquer gesto de desaprovação...

Bom, o primeiro horror aconteceu à noite, perto da Rua 24 Horas. Eu morava alí pertinho na época, na Vicente Machado. Nos preparamos pra ir dançar em uma disco gay, Douglas, Miguel e eu.
Só que antes resolvemos comprar algo pra beber na 24 Horas. Época de vacas magras, universitário com pouca grana. Comprávamos aqueles garrafões de 5 litros de vinho bagaceiro.
Eu estava com um moicano azul que berrava, um visual propositalmente punk naquela noite. O Douglas estava totalmente anos 70, boca de sino de veludo azul, sapatos plataformados imensos. E o Mig sempre cyber punk naquela época. Íamos conversando alegremente, quando o Douglas viu um grupo parado na esquina da Rua 24 Horas. Eram uns 30 skin heads.
Tudo o que se seguiu parecia cena de filme de horror: por uma fração de segundos minha visão se apagou, não ví mais meus amigos e só me dei conta de que corria e ouvia aquela manada atrás de mim...

Ví uma senhora a entrar em um edifício e quando o portão eletrônico se abriu entrei com ela e corri para a recepção. Por sorte ela percebeu o que se passava e me deixou ficar lá dentro. Os caras pararam em frente ao portão e começaram a tentar escalar. O recepcionista desesperado, com medo dos caras danificarem o portão ou quebrarem algum vidro, queria me pôr pra fora! Ele me dizia: -"Sai agora mesmo ou eu chamo a polícia!". Eu falava que não ia sair e pedi para ele chamar a polícia mesmo, a polícia naquela situação desesperadora era minha salvação. Quando percebi que um dos carecas pulou o portão corri para o elevador, apertei qualquer botão e me embrenhei pela escadaria... Passados alguns minutos ouvi sirenes da polícia na rua que paravam em frente ao prédio e resolvi descer. Por sorte, a senhora que me colocou para dentro confirmou meu depoimento ao policial e eles me levaram pra casa. Nenhum skin head foi detido. Conseguiram fugir quando se deram conta da chegada da polícia.

Cheguei em casa, com receio do que poderia encontrar, preocupado com o Doug e com o Mig.
Por sorte nada de pior aconteceu com eles também. O Miguel virou um raio, o Douglas me contou que o Miguel corria tanto que sumiu do campo de visão na frente dele numa fração de segundos... Já o Douglas, com minhas plataformas Creeper´s que lhe emprestei para compôr o figurino anos 70, caiu.
Rasgou a calça, rasgou a plataforma, estourou o joelho... Drama total!Mas sobrevivemos e ainda fomos dançar na mesma noite!

O segundo foi mais pavoroso, talvez por ter acontecido em um lugar mais afastado e com pouco movimento... Nós três adquirímos o hábito de comprar garrafões de 5 litros de vinho e ir beber em praças nos fins de tarde ou à noite.Em uma dessas praças, que não me lembro o nome, era legal. A praça era frequentada por skatistas, atletas amadores e jovens em geral. Nunca notamos nenhum tipo de hostilidade e por isso continuamos a frequentá-la durante longos períodos até a fatídica noite. Quando a praça ficava mais vazia, eu e o Miguel trocávamos carícias, nos beijávamos... na verdade fazíamos isso com ou sem a presença de estranhos, quando nos dava vontade (e a vontade era sempre muito grande!).
Bom, já estávamos ficando embriagados, garrafão de vinho quase acabando, quando o Miguel resolveu levantar do meu colo para urinar na árvore. Eu e o Douglas contínuamos a conversar trivialidades quando ouvímos o Miguel falar calmamente: -" Corram, que eles vão nos pegar!". Quando olhamos havia um grupo grande de skin heads (calculo uns 15, aproximadamente) vindo pelas sombras das árvores, sem fazer ruídos nem despertar suspeitas.
Percebi, com meu olho aguçado pelo medo, que havia um táxi parado no ponto de táxis na esquina da praça e gritei para eles: -" Corram para o táxi!". O taxista que dormia levou um susto quando chegamos aos gritos e saltando para dentro do carro. Os skin heads quase a nos pegar já, um drama total! Fechamos os vidros e pedímos: -" Acelere por favor, vamos sumir daqui!". O motorista, quando se deu conta do que acontecia, também se assustou e acelerou. Os carecas gritavam palavras ofensivas e faziam um barulho ensurdecedor, clamavam por sangue... chegaram a bater e chutar a lataria do táxi. E correram por umas 3 ou 4 quadras atrás do táxi, para ver se conseguiam nos pegar quando o motorista parasse em alguma esquina com o semáforo fechado... um terror!
Se não fosse por aquele momento em que o anjo da guarda levantou o Miguel do banco para urinar, eles nos teriam massacrado! Até hoje consigo ouvir aqueles urros que eles soltavam de ódio contra nós. Certamente eles nos observavam já há algum tempo e moravam alí pelas redondezas. Só esperavam o momento oportuno para agir...

O último susto em Curitiba foi uma vez em que eu estava sozinho a comer um hot dog desses carrinhos, numa esquina. Todo maqueado, 100% gótico morcegão, cabelo todo desfiado... e quando noto passam ao meu lado um casal de skin heads. A guria me viu e avisou o rapaz, ele chegou a olhar pra trás, mas logo adiante, perto do tubo do ligeirinho havia um homem negro, e eles preferiram atacar o negro. Eu praticamente coloquei o rosto dentro do pão do hot dog para tentar passar desapercebido, como se isso fosse possível... e quando percebi que eles saíram correndo atrás do rapaz aproveitei a oportunidade para sumir bem rapidinho...Ainda cheguei a ver quando eles pegaram o negro, pelas costas e o jogaram no chão. COVARDES!

Depois, ainda em Curitiba, houve um tempo em que as meninas skin heads começaram a se vestir como clubbers e cyber punks para frequentar os lugares gays e colher informações para o grupo poder atacar.
Essa é uma estratégia de infiltração usada até hoje, não só em Curitiba.

Esses relatos são para mostrar minha indignação com esse tipo de comportamento imbecil em um país cuja maior característica é a miscigenação e a diversidade, seja ela racial, religiosa, sexual ou ideológica.
E para pedir que todo crime bárbaro, de qualquer natureza, seja punido com o devido rigor da lei.




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