sábado, julho 14, 2007

Chapter II - London, London...


























Em Londres as câmeras de vigilância reprimem bastante a criminalidade. Elas são onipresentes! Estão observando as pessoas nas ruas, nos ônibus, nos metrôs e trens, nas praças, nos lugares turísticos... A sensação de estar sendo observado é, por vezes, estranha. Mas depois a gente se acostuma...Elas sempre foram alvos de calorosas discussões. As pessoas alegam falta de privacidade. Mas creio que sem a presença de todas as câmeras, a vida nas grandes cidades britânicas seria bem mais perigosa...

Gostei tanto de trabalhar como "cleaner" que acabei abandonando meu emprego de "waiter" na Cover Staff. Ser "cleaner" não é tão difícil como se possa imaginar. Eu basicamente recolhia os sacos plásticos das lixeiras, tirava pó dos móveis, passava aspirador no carpet e limpava banheiros e vidros.Como trabalhávamos antes da abertura da faculdade, era tranquilo, sem ninguém observando.

A Mary era muito exigente, me chamava a atenção quando necesário, mas nunca de forma grosseira. O casal gostava e confiava em mim. Na segunda semana já me deram um outro emprego em Knightsbridge (perto da Harrods), também em uma faculdade, que limpávamos após o expediente, no começo da noite.

Como eu trabalhava de madrugada e de quase de noite, tinha o dia inteiro livre, tempo que aproveitava para estudar inglês, conhecer mais a cidade e trabalhar como voluntário na Cruz Vermelha Britânica, em Camberwell Road. Era uma "second hand clothes store", um brechó, mantido pela Cruz Vermelha. Eu era atendente, mas também ajudava a selecionar e dobrar peças. Foi uma excelente experiência, que me ensinou a importância de dedicar um pouco de tempo aos mais necessitados.

Nessa época os piás (Marc e Fábio) já tinham me convencido a vir morar com eles no casarão em Camberwell, na Vicarage Grove (SE5). O landlord só aceitava "gay tenants". O ambiente era alegre e descontraído, mas as picuínhas sempre existiram...Além de nós três, ainda havia o Paulo, uma bicha portuguesa nascida em Angola, que fazia parte do nosso "clube lusófono de Camberwell". Quando estávamos juntos, só falávamos em português. E as outras bichas ficavam passadas, sempre imaginavam que estávamos falando delas... e nem sempre era!

O Fabio e o Marc me levaram, logo quando cheguei, ao Gossips (69 Dean Street, Soho London W1), um nightclub alternativo muito legal encravado no centrão londrino.Foi minha primeira experiência na vida noturna londrina...E o DJ mantinha um caderno onde as pessoas sugeriam músicas pra ele tocar...Depois de muitos pints de Guiness começamos a escrever bobagens, pedir sons absurdos e deixávamos mensagens em português, que o pobre deve estar tentando entender até hoje...LOL!!!E o nosso visual gótico abalava mesmo!

London foi, sim, uma expêriencia única em minha vida. Amadureci com o sofrimento diário, chorei pela ausência da família e do Miguel, meu boyfriend na época. Me tornei muito mais humilde e tolerante, pensei muito nos prós e contras de estar me "auto-exilando"...

É impossível passar ileso emocionalmente quando se vive em Londres!

É claro que as primeiras semanas são as mais desesperadoras e sofridas, as mais críticas, emocionalmente falando. Cada vez que eu via um avião cruzando os céus me dava uma vontade louca de fazer as malas e ir pra Heathrow...

Em momentos distintos lembro-me de alguns fatos curiosos, outros humilhantes, outros engraçados...

Eu e Paulo, meu amigão português que dividia o flat comigo, pegamos o péssimo (?) hábito de só nos comunicarmos em português. Por vezes era ótimo, pois ríamos e debochávamos das pessoas "com privacidade". Mas em alguns momentos tivemos algumas saias justas também...

Uma tarde fomos caminhar juntos em Hampstead Heath após um delicioso almoço em um restaurante polonês. Nos perdemos em meio a imensidão do parque, entramos em uma área tão deserta que a impressão que tínhamos era de nem sequer estarmos mais em Londres. Uma delícia! Era ao mesmo tempo macabro, assustador porém encantador. Então retomamos uma trilha que foi dar em um lago cheio de patos e lindos jardins.

Sentamos em um banco e estavamos conversando animadamente quando passou um lindo rapaz sem camisa, passeando com um cão labrador. Paulo quase teve um colapso nervoso e fez comentários bem chulos - usando palavras vulgares e obscenas - sobre os "atributos" do "gajo precioso". Grosseria pura! O cara ouviu, voltou e disse EM BOM PORTUGUÊS: " - Então venha comigo e trate de me fazer ao menos um blow job decente"!!! LOL...Eu, bege!!! Paulo não perdeu a pose, embora envergonhado, e se jogou com o cara para umas moitas de pegação alí perto. Era uma espécie de gay area dentro do parque, ponto de pegação conhecido dos gays londrinos. A putaria reina no Reino Unido!

Uma vez eu peguei um ônibus em London Bridge station para ir ao centro. Sentei na parte superior do ônibus, bem na frente, pra ver Londres desfilando lenta e variada em minha frente.Próximo a Westminster Bridge subiram 2 bichinhas brasileiras e sentaram exatamente no banco em frente ao meu. Pela conversa percebi que uma delas, carioca, morava em Londres. A outra tinha ido visitar a amiga. A carioca disse, em determinado momento, para a outra: "- E o melhor aqui é poder falar em português e ninguém entender. Daí ficam com essas caras de lesados, como esse aí atrás"!!!Interrompi a conversa e disse-lhe: "- Mind your words, dear! Há muitos lusófonos em Londres!"As bibas quase morreram de vergonha.

Outra vez peguei o night bus quando saí da balada e em determinado momento entraram 2 brasileiros bêbados, falando em português, sotaque inconfundível das Minas Gerais. Um deles foi lá na frente do corredor e começou a gritar em português: "- As inglesas são todas umas barangas. E os ingleses são todos uns frescos. Quem concorda levanta a mão!"Não sabia se ria do fato inusitado e da cara de pau do fulano ou se chorava de vergonha!

Em um dos restaurantes onde trabalhei como waiter, o gerente era português. Logo de cara ele me disse: " - Gosto de trabalhar com brasileiros aqui. São limpos, responsáveis e organizados, não dão problemas como esses indianos e africanos imundos".Fiquei chocado com sua opinião e com o teor tão racista do comentário. Só permaneci porque precisava do dinheiro mesmo. Depois com o tempo o conheci melhor e descobri tratar-se de uma pessoa bem querida, embora a primeira impressão tenha sido a pior!

Aí nesse mesmo restaurante, que ficava locaizado no último andar de um prédio bem alto, perto de Bank Station, a vista que tínhamos de Londres era belíssima.O Thames, o trânsito, o vai-e-vem de gentes... era maravilhoso observar a cidade acontecendo lá em baixo, non-stop...O restaurante era estilo self-service, frequentado basicamente por executivos engravatados que trabalhavam nos arredores.Minha função era limpar e organizar as mesas para novos clientes.Após o término do horário de serviço podíamos almoçar.

That´s the European glamour, dudes!

Stairs, stairs, stairs...Bathrooms, bathrooms, bathrooms...Tons of rubbish and dirty dishes...

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TO BE CONTINUED...



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